De acordo com dados da Associação Portuguesa de Fertilidade, 15% a 20% dos casais em idade reprodutiva sofrem de problemas de fertilidade. Esta pode ser causada por fatores masculinos (20 a 30% dos casos), femininos (30 a 40% dos casos) ou de ambos os membros do casal (30%). Nos restantes 5% a 10% dos casos, não existem causas detetadas para a infertilidade – definida como a incapacidade de alcançar uma gravidez depois de um ano de relações sexuais regulares e sem uso de contraceção.
Entre as causas mais comuns para a infertilidade estão a diminuição do número de espermatozoides, a sua mobilidade reduzida, configuração anormal ou mesmo ausência (fatores masculinos) e fatores femininos como:
- falência da ovulação;
- obstrução das trompas;
- doenças do útero;
- muco cervical desfavorável;
- endometriose;
- abortos de repetição.
Nalguns destes casos, a solução para concretizar o desejo de engravidar pode passar pela fertilização in vitro, ou seja, um tratamento de fertilidade em que o óvulo é fecundado em laboratório (com sémen do parceiro ou de um banco de gâmetas doados, dependendo dos casos), sendo o embrião daí resultante implantado no útero da mulher.
Vamos, então, explicar-lhe o passo a passo da fertilização in vitro.
Estimulação ovárica
A primeira etapa inicia-se após o período menstrual e tem como finalidade estimular o crescimento folicular, de forma a que se desenvolvam vários ovócitos. Para tal, a mulher recebe uma injeção de hormona hCG (hormona da gravidez) ou hormona luteinizante (também conhecida por LH, tem como função regular a ovulação e o ciclo menstrual). Este processo de crescimento é controlado através de análises ao sangue e ecografias, o que tem um duplo objetivo:
- garantir o desenvolvimento de vários folículos maduros;
- evitar a ocorrência da hiperestimulação ovárica (uma complicação cuja incidência é, hoje em dia, inferior a 1%).
Através deste controlo, é programada a data para uma nova injeção de hormona hCG, com vista ao completo amadurecimento dos oócitos, bem como a colheita dos ovócitos.
Punção e laboratório
É realizada sob o efeito de sedo-analgesia, por forma a minimizar o eventual desconforto inerente ao procedimento. Com uma duração de cerca de 15/20 minutos, esta técnica tem um risco muito baixo (0,1 a 0,2%). Após o procedimento, a mulher permanece na clínica, em observação, pelo período de 2 a 3 horas, sendo-lhe fornecidas todas as indicações quanto à medicação que terá de seguir.
É também no dia da punção que o companheiro procede à colheita de sémen. Após 2 a 3 dias de abstinência sexual, este é recolhido e imediatamente preparado em laboratório para a fecundação.
Etapas de preparação laboratorial do sémen:
- Colocação numa estufa, a 37.ºC, simulando a função vaginal que permitirá a sua liquefação.
- Simulação da ação do muco cervical feminino, procedendo-se, para tal, à centrifugação do sémen, durante 30 minutos, com vista à remoção de microorganismos, leucócitos, células germinais imaturas e espermatozóides anómalos.
- Purificação dos espermatozóides e sua incubação, pelo período de 1 hora.
- Simulação da ação natural do muco uterino e das trompas de Falópio, através da recolha dos espermatozóides com melhor morfologia e mobilidade;
- Colocação do sémen num catéter, contendo 500 000 a 1 milhão de espermatozóides.
Fecundação dos óvulos
Recolhidos os óvulos e preparados os espermatozóides, decorre a fertilização in vitro propriamente dita. Esta é a fase em que o espermatozóide é introduzido, por meio de microinjeção, no interior do oócito, colocando-se os folículos e os espermatozóides numa placa de cultura. Esta é posteriormente colocada numa incubadora, onde irá ocorrer a fecundação e o desenvolvimento embrionário.
Cultura embrionária em laboratório
Desde o momento em que se coloca a placa de cultura na incubadora até à transferência do embrião para o útero materno, o processo de fertilização é observado e controlado em laboratório.
Durante este período, é no laboratório que se confirma que o espermatozóide fecundou efetivamente o óvulo e que se controla o início da divisão celular que levará à formação do embrião. Todo o processo de formação é acompanhado, por forma a avaliar os vários fatores que indicam a qualidade do embrião e a sua aptidão para ser transferido para o útero materno.
Transferência embrionária
Dois a três dias após a punção, é chegado o momento de transferir os embriões para a cavidade uterina, onde permanecem até ao 8.º dia de gestação, momento em que podem atingir a capacidade de penetrar o endométrio, continuando o seu desenvolvimento. Este é um processo com uma duração de cerca de 5 minutos, realizado através de um catéter e sob controlo de uma ecografia, sem necessidade de nenhum tipo de sedação ou anestesia.
O número de embriões a transferir depende de vários fatores, nomeadamente:
- fatores masculinos
- idade da mulher
- qualidade dos embriões obtidos.
Além disso, a decisão do casal é também sempre tida em conta.
Criopreservação dos embriões
Por forma a aumentar a taxa de sucesso dos tratamentos de fertilização in vitro, a lei portuguesa obriga à criopreservação dos embriões excedentários cuja qualidade seja garantida. Estes são mantidos durante um período de três anos (que pode ser prolongado por mais três), findos os quais o casal pode optar por doá-los ou destruí-los.
Dada a evolução significativa das técnicas de criopreservação, nomeadamente o recurso à técnica de congelação química (vitrificação), a taxa de sobrevivência dos embriões após descongelação é de cerca de 98%. A sua transferência para o útero materno, em caso de necessidade, é realizada através do mesmo procedimento da transferência de embriões “a fresco”.